O que aprendi com o coronavírus

É fato que esse cenário tenso no qual estamos inseridos está apenas começando. Longe de mim ser pessimista (faço mais o tipo insuportável-de-tão-otimista), mas segundo estimativas, teremos alguns meses pela frente para enfrentar esse tal de coronavírus. Apesar disso, as últimas semanas já renderam muitas reflexões para mim. Pude reunir uma coleção valiosa de aprendizados que acho legal compartilhar mesmo que ainda tenhamos uma longa caminhada nos esperando. Afinal, são eles que vão nos fortalecendo em meio a todo esse caos.

Eu acredito fielmente que em tudo nessa vida há proveito. E se estamos sendo colocados à prova, que seja para sairmos mais fortes e conscientes desse desafio.

Nem sempre é sobre a gente. Às vezes, é sobre o outro.

Tenho pra mim que se essa vida fosse apenas sobre encontrar o nosso propósito, alcançar o nosso próprio sucesso e ponto, haveria apenas um de nós habitando essa Terra. Acontece que, se dividimos o mesmo espaço, é porque somos não apenas companheiros de caminhada, mas uma peça-chave na jornada um do outro. Essa situação tem nos mostrado o quanto o conceito de colaboração é essencial. Então, não se esqueça de olhar para os lados e perceber que talvez alguém esteja precisando mais de você que você de qualquer outra coisa. O que nos leva ao próximo aprendizado.

Precisamos reconhecer e aprender com os nossos privilégios

É verdade que estamos todos no mesmo barco enfrentando essa pandemia, mas digamos que esse barco está dividido em setores, e nem todos têm acesso a todos eles. Para ficar mais simples, pensemos em um voo: alguns ficam na classe econômica. Outros, na executiva. E alguns sequer chegam a embarcar no avião, pois viajar não é uma realidade. Entendem?

Todos nós estamos sendo atingidos pelo coronavírus e sofrendo suas consequências, mas elas são diferentes, e olhar ao redor e nos darmos conta dos nossos inúmeros privilégios (como poder fazer home office, estar perto da família, ter uma reserva de dinheiro para sobreviver à instabilidade dos próximos meses etc.) é reconhecer que vivemos em uma sociedade desigual. Do alto dos nossos privilégios, precisamos frear os julgamentos e entender de que forma podemos ajudar os menos favorecidos. É hora (já passou, na verdade) de sair da bolha!

Não temos o controle das coisas

No fundo, nós sempre soubemos disso, mas é algo que nos esquecemos com facilidade (eu sempre! rs). Em muitos momentos da vida, insistimos em acreditar que podemos controlar alguma coisa. Mas aceitar que não temos o controle de uma situação é muito importante para focarmos nossos esforços no que de fato importa, que são as soluções que, dentro desse cenário, estão ao nosso alcance. Pensemos o seguinte: o que podemos fazer por nós mesmos, pelos que amamos e pelo mundo neste momento?

Não dá para deixar nada para amanhã: nem amar, nem os nossos sonhos e muito menos ser feliz

Lembra dos planos que você fez para os próximos meses? E das coisas que você tem adiado já há um tempo? Das mais simples pendências aos nossos maiores sonhos, estamos sempre ”deixando para amanhã”, um hábito muito comum em uma sociedade que tem uma rotina sufocante e julga nunca ter tempo para nada.

”Amanhã eu faço”, ”amanhã eu ligo”, ”amanhã eu falo”, ”mês que vem eu começo”, ”ano que vem eu viajo”. Acontece que esse amanhã está totalmente comprometido, e nunca vimos nossos planos serem pausados/adiados/cancelados de forma tão brusca. Portanto, não deixe para amanhã, porque ele pode, de fato, não existir. A vida é agora e está o tempo todo acontecendo. Ligue, diga o que sente, perdoe, faça a viagem que tanto quer, invista em si mesmo e nos seus sonhos. Hoje.

As pequenas coisas importam

Estar com quem amamos. Almoços em família. Passear no shopping, ir ao cinema ou ao seu restaurante favorito. Abraçar as pessoas. Fazer uma caminhada ao ar livre. Tocar objetos sem medo. Para mim, as pequenas coisas sempre tiveram grande valor, e eu sou uma defensora árdua delas. Mas quando eu achava que já sabia muito bem o tanto que elas me faziam feliz, a vida mostrou ainda mais o quanto me são essenciais. Eu mal posso esperar para ter a minha rotina de volta e ainda mais para abraçar todos aqueles que eu amo e convivo. Como diz a minha mãe, a vida é feita no dia a dia, e a sua importância nunca esteve tão óbvia para nós.

Juntos somos (muito) mais

Em poucos dias, vi nascer diferentes redes de apoio, de pequenos empreendedores que estão trocando dicas sobre como manter o negócio em pé à noivas que estão trocando desabafos por terem tido os casamentos adiados. E por aí vai. Assistindo a tudo isso, pude concluir, mais uma vez, que juntos temos o poder de revolucionar, seja o que for. Que união, colaboração e cooperação são palavrinhas mágicas e podem nos levar além.

Em tudo há proveito

É como eu disse anteriormente: nada nessa vida é em vão, portanto, saber fazer do limão uma limonada e do caos uma oportunidade é um desafio e tanto, mas necessário e muito válido. Pare por alguns minutos e tente fazer ao menos uma reflexão de todo esse cenário que estamos enfrentando. Duvido você não chegar a ao menos uma conclusão, seja sobre você mesmo, seja sobre nós, como sociedade. Boa ou ruim, ela te mostrará que algo precisa ser mudado.

Criatividade e resiliência

Essas são duas palavrinhas que gosto muito, e que de certa forma se completam. Resiliência ”é a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças.”. Já a criatividade vem como uma parceira que nos ajuda a enfrentar essas tais adversidades sem deixar a peteca cair.

Nesse sentido, vi empresas (das micro às grandes) se reinventarem em poucos dias. E isso vale também para cada um de nós, que estamos tendo que repensar a nossa rotina e rever os planos que tínhamos traçado. Numa dessas, concluímos mais uma vez que o ser humano é totalmente adaptável.

Somos uma construção sem fim (e temos muito o que melhorar como nação!)

Aqui, são dois aprendizados em um. É muito importante termos a consciência que nunca seremos bons o bastante a ponto de nunca mais termos o que aprender e melhorar; duvido você não ter chegado à conclusão de pelo menos uma coisa na qual pode ser melhor daqui pra frente. Além disso, estamos assistindo o desempenho de governantes que foram colocados à prova diante de uma situação que ninguém esperava, ou seja, é importante olharmos de forma crítica para aqueles que estão no poder e repensar nossas escolhas.

Um dia de cada vez

Por fim, este que é um dos meus mantras de vida preferidos fez-se uma verdade ainda maior ao olharmos para o futuro e sequer sabermos quando poderemos estar juntos novamente. Viver um dia de cada vez e aproveitá-lo em sua completude é um dos meus clichês favoritos, afinal, por mais difícil que seja aceitar, esse vírus nos mostrou que o amanhã não nos pertence. Bem diante dos nossos olhos, vimos o nosso 2020 e todos os seus planos serem interrompidos. E uma das saídas para não sucumbirmos à ansiedade, acredito eu, é, de fato, viver as angústias e pequenas alegrias de hoje, deixando para amanhã o que cabe somente ao amanhã resolver.

Felizmente, não é todo dia que somos tomados por pandemias, mas uma vez assolados por essa, estamos entendendo (a duras penas!) que não precisamos esperar por catástrofes para decidirmos de uma vez por todas agarrar o nosso hoje e tudo o que ele envolve, fazendo o que está ao nosso alcance. Amar é uma dessas coisas. Fazer a diferença no mundo também.

E seguimos, pois há muito pela frente. O importante é que o nosso olhar esteja bem atento e o nosso coração um tanto aberto. E, claro, que continuemos em casa (se possível!) e lavemos muito bem as mãos.

Júlia Groppo

Por julia às 23.03.20 Comentários

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