É proibido ser triste em dezembro?

Nunca fui boa em me despedir. Seja de amizades, ciclos da vida, lugares que visito e sinto que deveria ficar para sempre (acontece com frequência). Mas em dezembro tudo isso é elevado à máxima potência . O tempo passa e me pego vivendo o mesmo drama: a dificuldade em dar tchau para o ano que está indo embora. Uma espécie de melancolia me abraça forte, daquelas que parece que não vai te largar tão cedo; e assim seguimos juntas até a noite do dia 31.

Foram inúmeras as tentativas frustradas de fingir que nada disso borbulhava dentro de mim ao me convidar a entrar em um clima 100% de festa e alegria. Afinal, parece que há um consenso universal entre todas as pessoas de que em dezembro é proibido ser triste. Além disso, dezembro é um dos meus meses preferidos, e eu me culpava por não me sentir totalmente bem ao longo dele. É claro que nunca funcionou, pois se tem algo que (graças a Deus) sou péssima é em mentir para mim mesma. Essa tal melancolia acabava transbordando de um jeito ou de outro, seja pelos poros ou pelos olhos. Nos últimos anos, finalmente aprendi a abraçá-la de volta e deixá-la cumprir o seu papel.

Desde que entendi que a melhor maneira de encerrar ciclos é respeitando o tempo que levamos para processá-los, ignorando qualquer calendário ou convenção social, aproveito minha hipersensibilidade para viver as minhas viradas de ano da maneira mais espontânea possível. Também aprendi que dezembro é sobre celebrar, mesmo que a tristeza se faça presente de alguma forma nos últimos dias do ano. Acredito demais no poder das celebração, que é sempre atrelada à festas, mas que devíamos colocar em prática quantas vezes pudermos ao longo da vida.

Celebrar cada passo dado ao longo de 2022, inclusive os tropeços. Celebrar os sonhos realizados, mas também aqueles que nunca havíamos sonhado e aconteceram como um grande presente do universo. Celebrar os bons encontros e as pessoas que ficaram pelo caminho, cumprindo seu papel em nossa história. Celebrar os últimos 365 vividos e vibrar pelos próximos que estão por vir. Afinal, por mais realizador que um ano possa ser, chega um momento em que o nosso coração clama por páginas em branco para serem preenchidas. E é por acreditar no poder dos ciclos, das celebrações e dos rituais que quero deixar registrado aqui um pouco do tanto que foi o meu 2022.

Fiz uma road trip pela Itália. Fui a shows com os quais sonhei a vida toda. Tive conversas difíceis, mas decisivas. Reencontrei pessoas que a pandemia havia afastado. Vi o Papa Francisco de uma distância que jamais imaginei que seria possível. Fiz muita terapia. Comemorei meus 26 anos no Rio de Janeiro. O voluntariado fez ainda mais parte da minha vida. Descobri novos sonhos. Escrevi poesias. Realizei a maior parte das minhas metas. Não traí a minha essência. Escrevi todos os dias. Fiz mais uma campanha de arrecadações de Natal acontecer. Fui a muitos novos cafés. Desejei não ser mais ninguém além de mim diversas vezes. Voltei a jogar tênis. Fiz novas amizades. Assisti muito Friends. Me encontrei com o mar. Usei menos as redes sociais. Fui voluntária de um TEDx. Vi o pôr do sol mais lindo da minha vida. Chorei e ri muito, demais mesmo, o que, para mim, é motivo de orgulho, pois quer dizer que senti a vida pulsar do lado de dentro e de fora – e essa é um compromisso que firmo comigo todos os dias.

E o mais importante de tudo, um aprendizado do qual me dei conta dia desses, entre as obrigações da rotina: por mais perdida que eu possa me sentir às vezes, por mais tropeços que eu esteja dando nos meus próprios pés, é incrível a minha capacidade de voltar para mim mesma. Meu coração sabe o caminho de volta. E termino 2022 aliviada por isso.

Obrigada por estar aqui. Nos vemos em 2023.

E que seja doce, sempre.

Júlia Groppo

Por julia às 09.01.23 Comentários

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