Teve um dia que olhei para mim mesma (depois de muita terapia, voos e tropeços) e entendi que ali moravam diversas coisas. Nem somente boas, nem somente ruins, mas inteiramente minhas. E não é que tenha feito sentido, até porque, tenho pra mim que tem coisa que se fizer muito sentido, estraga. Mas se fez leve.
Aos poucos, descobri que tem pergunta que é melhor nunca saber a resposta. Tem labirinto que vale a pena não encontrar a saída. Têm abismos nos quais é preciso nos lançarmos. E tem coisa que a gente só entende quando ilumina a própria sombra.
E quando a gente descobre o quanto gosta de ser a gente, não há nada que nos pare. Porque mesmo quando tudo parece esquisito demais do lado de fora, a gente tem o lado de dentro para habitar. E que presente – e ao mesmo tempo desafio – é vasculhar cada canto. Essas coisas todas meio estranhas que formam quem a gente é, são, no fim das contas, a nossa arma mais potente para enfrentar a nossa própria existência.
Foi então que percebi que não há nada mais genuíno que caminhar por aí sendo aquilo que exatamente se é. Dos pés à cabeça. Do coração à essência. Da alma ao espírito. O pacote completo da incompletude que só se cura vivendo. Só se cura sendo.
Daí escolhi Simone (sim, a de Beauvoir) para registrar isso em mim. Marcar na pele o que meu peito grita já tem um tempo, por mais desafiador que possa ser.
“Eu aceito a grande aventura de ser eu mesma”.
E que aventura, amigos.
Júlia Groppo